Constituindo um centro profundamente criativo, a “borda, pela sua qualidade de borda e pela sua qualidade de mistura de culturas, de situações sociais complexas e não estabelecidas, possibilita uma centralidade que é uma centralidade do novo”, afirma, apoiando-se em Nicolás Casullo, o psicanalista e analista institucional Jorge Broide, ao conversar com a Revista Cultura no Divã – Relações contemporâneas entre psicanálise e cultura (ISSN 2446-8282) sobre as relações entre psicanálise e espaço público. Ainda que se refira inicialmente ao “território vienense” nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando Sigmund Freud publica “Linhas de progresso na terapia psicanalítica” (1918), e às décadas que antecederam a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a atuação dos psicanalistas por meio de clínicas gratuitas, em sete países diferentes, em mais dez cidades, foi muito intensa, Broide entende que a inserção dos psicanalistas na vida sociopolítica brasileira, hoje, é fruto dessa mesma relação dialética entre a borda e o centro. “E essa relação dialética coloca o Brasil numa vanguarda da psicanálise”, afirma.

De modo que é na relação transferencial, atendendo nas ruas, prisões, instituições, clínicas abertas, em contato com as inúmeras e profundas vulnerabilidades presentes na contemporaneidade, que o psicanalista tem possibilidade de escutar a “pulsação da cidade”, levando ainda a compreensão da clínica para a política pública, ao possibilitar ao gestor público ações diferenciadas a partir da compreensão da ligação do sujeito (do inconsciente) com o território da cidade. Duração: 24’59”