26 de agosto de 2015 Mauro Mendes Dias

 
Quando Sigmund Freud (1856-1939) apresentou os fundamentos da neurose obsessiva, ele observou uma tendência dominante, nos sujeitos por ela acometidos, de não se deixar tocar. Que vai desde a evitação do toque do corpo até a verdade que os atinge. O que há de notável é poder mostrar que aquilo de que um sujeito foge, para não ser atingido pelo desejo, implica em colocar alguma coisa precisamente no lugar em que seria tocado. Afirmar que isso é uma defesa é avançar pouco em relação ao que se encontra em jogo. Esse lugar em que se evita ser tocado pela verdade do desejo é o terreno onde proliferam as religiões, as seitas… e o que é considerado uma liberação, um avanço.

Quanto mais o sujeito evita ser tocado pela verdade, mais ele se deixa fazer como alguém que compartilha da ilusão de fazer relação por meio de relações digitais, normatizado por uma tirania das imagens e das ideias, que se afirmam cada vez mais esvaziadas de sentido e de esforço do pensamento.

O culto ao mais elementar, ao mais trivial, ao mais compartilhável das opiniões, como culto ao vazio e banalização do desejo, é o nome pelo qual um novo “não me toque” se faz ouvir. Ele tem um nome e tem voz: politicamente correto.

 
Imagem: Man Ray | Noire et Blanche | França | 1926 | fotografia

Mauro Mendes Dias é psicanalista, autor de Moda, divina decadência (Hacker, 1997), Por causa do pior (Iluminuras, 2005), Os ódios – Clínica e política do psicanalista (Iluminuras, 2012), organizador de A voz na experiência psicanalítica (Zagodoni, 2015), entre outros.