Convidado pela Revista Cultura no Divã – Relações contemporâneas entre psicanálise e cultura (ISSN 2446-8282) a refletir – com base na noção de estruturas clínicas – acerca do estado atual da psicanálise lacaniana na contemporaneidade, Marco Antonio Coutinho Jorge, psicanalista, professor associado do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor do Corpo Freudiano – Escola de Psicanálise, Seção Rio de Janeiro, chama atenção para o fato de que as formas sintomáticas contemporâneas apresentam aspectos que colocam em questão a noção de estrutura. Resgata o fato de que, embora nomeada e desenvolvida por Jacques Lacan, tal noção já estava presente na obra de Sigmund Freud, não deixando de levantar questões importantes, tais como a noção de diagnóstico (diferencial e provisório), condução do tratamento e técnica analítica. “Hoje, contudo”, destaca, “pensa-se que há uma clínica lacaniana para além da estrutura.” Com efeito, “as análises avançam de acordo com a própria condição singular do sujeito, por meio da transferência. (…) Pouco se pode prever sobre o avanço de uma análise, no começo. As análises são surpreendentes!”.
Não à toa, ao se referir à psicanálise praticada no Brasil, que considera tão rica e fértil, em comparação com a norte-americana ou europeia, e à formação de analistas, Marco Antonio destaca a criatividade e entusiasmo dos jovens analistas, e associa a apropriação da psicanálise pelos psicanalistas brasileiros a um saber que é produzido, conquistado e almejado – e cuja prática corresponderia à perspectiva de um futuro para a psicanálise. “Normatizações não enriquecem a psicanálise e o ‘normopata’ não é um bom candidato à formação”, afirma. “O melhor analista é aquele que vindo da complexidade da sua neurose pode, portanto, ser levado a aprofundar a experiência da análise o mais fundo possível. É isto que vai permitir a ele ter diante do analisando, no futuro, condições de receber as mais variadas condições subjetivas.” Duração: 35’23”
Imagem: Cultura no Divã | Clínica contemporânea, formação e o futuro da psicanálise (lacaniana?) | São Paulo | 2018 | divulgação