Foram quatro longos meses de reformas, seção por seção, com um cronograma apertado e jamais cumprido; cartazes espalhados por todo o estabelecimento, alertas, avisos, comunicados sempre renovados. Ao final das obras, os clientes voltando aos poucos, o mais importante para Catarina continuava ali: a iluminação eficaz, límpida, como as luminárias frias e implacáveis dos dentistas. Pois o maior dos temores de Catarina, quando as mudanças foram anunciadas pelo supermercado, era perder o grande momento de suas visitas semanais àquele canto particularmente refrigerado no meio do qual ficava instalada a gôndola dos ovos, momento tão incontornável quanto dependente, em absoluto, de uma iluminação que aos seus olhos era perfeita.
No dia da reabertura, em pleno inverno – portanto, vestida com seu sobretudo marrom-claro, que aos olhos dos funcionários lhe conferia um ar nobre, sóbrio, aristocrático –, portando a velha sacola azul de pano puído, dando seus passinhos lentos e prudentes de idosa, ela avançou à procura deles, sem saber se estariam de fato no mesmo lugar. Estavam, o que a fez sorrir discretamente.
Pôs a sacola vazia no chão de linóleo – não precisou se abaixar, pois não tinha nem um metro e meio de altura – e deu início à inspeção. Nunca pegava as caixas de ovos maiores. Como morava só, preferia as que continham no máximo seis exemplares. Esse ritual se repetia semanalmente havia anos, sempre na mesma loja.
Abriu a primeira e, segurando-a com a mão esquerda, tirou, como sempre, o ovo encaixado no receptáculo superior esquerdo da embalagem e o fez girar sobre si mesmo para poder examiná-lo, servida por aquela iluminação que quase não produzia sombras, milímetro por milímetro. Faria o mesmo com o segundo, seguindo, como sempre, o sentido horário na escolha de cada exemplar.
A iluminação naquele supermercado, com efeito, sempre possibilitara uma inspeção minuciosa e certeira. Cada ovo levava um minuto, em média, para ser avaliado. Enquanto o fazia, ela pensava, de maneira mais ou menos turva: é preciso saber a origem das coisas, qualquer coisa; é preciso estar convencido daquilo que será adquirido, pois foi assim que ela mesma tinha sido educada, durante os períodos de penúria. Ao mesmo tempo, refletia sobre a sensação que sempre tomava conta de seus dias apenas alguns anos antes, quando ainda era casada e o marido, adoecido, vivia a reclamar de dores e da falta de dinheiro: uma sensação de frustração, uma vontade de explodir. Nesses momentos, enquanto ouvia os sussurros resfolegantes do homem, sentia vontade de ser uma astronauta e se incorporar numa missão prolongada de alguma agência espacial, para estar fora do mundo; ou pensava em ser uma alpinista e subir até algum pico do qual talvez não voltasse; ou, ainda, uma navegadora, para dar a volta ao mundo; ou, quem sabe, uma mergulhadora, para perscrutar as profundezas de um outro universo.
Já estava na terceira caixa de ovos quando tomou a decisão: nenhuma delas servia; nenhum dos ovos que havia examinado tinha condições de adentrar a sua casa; ora estavam pesados além da conta, ora com algumas sardas ou manchinhas suspeitas, ora ligeiramente deformados; e a maioria apresentava uma cor distante daquela que ela conhecia tão bem e que refletia os tons da natureza. Nenhum deles nem sequer se aproximava da perfeição que os ovos de verdade têm. E Catarina, neta de camponeses sulinos, sabia do que estava falando.
Refletindo, intrigada com a situação, se deu conta de que a tal nova iluminação, conquanto válida, não era exatamente igual à que existia antes ali. Parecia muito mais intensa, brilhante, forte, muito mais implacável, muito mais fria. No caixa do supermercado, obteve a informação de que a nova iluminação era, de fato, bem mais potente do que a anterior. Ainda mais rascante, portanto, permitindo-se ver as mercadorias como realmente eram (a moça do caixa que lhe deu a explicação se orgulhava desse avanço). Desiludida, considerando a hipótese de que nos anos anteriores talvez jamais havia enxergado os ovos como realmente eram, Catarina se despediu e deixou o estabelecimento com a sacola azul vazia e a certeza de que nunca mais conseguiria comprar um único ovo naquela loja.
Imagem: Cultura no Divã | A iluminação perfeita | [s.l.] | 2018 | fotoedição